quinta-feira, 17 de julho de 2014

O JARDIM DE VERÃO

Quero ir lá, onde a rosa cresce, ao jardim único
cercado pelas reixas mais belas da terra,
em onde as estátuas a minha mocidade recordam
como eu as recordo baixo a água do Neva.
No amplo silêncio, entre as grandes tílias,
ainda me parece ouvir o ranger dos mastros.
E o cisne voga sempre através dos séculos,
surpreendido de ver o seu dobre no reflexo.
Dormem o seu sonho eterno centos, milheiros de passos
de amigos, de inimigos, de inimigos, de amigos...
e jamais se conclui o desfile de sombras.
Desde jarrão de pedra até as áureas portas,
lá é onde murmuram as minhas doces noites brancas
acerca do segredo de amor que alguém me teve...
E tudo tem o brilho de nácar e de jaspe
enquanto a fonte guarda a sua luz caladamente.


Anna Ajmátova (1888-1966)
rosanegra